O que é melhor? Ter bons hábitos de saúde, práticas de exercício físico e uma dieta saudável para fortalecer o corpo ou não ligar para nada disso e, quando a doença chegar, comprar vários remédios, fazer longos tratamentos ou mesmo uma intervenção cirúrgica?
Acredito que você tem uma resposta bem clara sobre o caminho mais eficiente e prazeroso, menos desgastante e seguramente mais barato também. Com propriedades, a lógica é exatamente a mesma.
O Melhor Combate é a Prevenção!
A prevenção de incêndios em propriedades é considerada erroneamente como uma área exclusiva para técnicos qualificados, que projetam ou controlam medidas específicas a serem adotadas em cada caso para manter um nível adequado de segurança. Acredita-se que é um assunto muito complicado para as pessoas que não são técnicas, mas não é.
Prevenção de incêndios é um objetivo no qual todos podem e devem estar ativamente envolvidos, desde os proprietários ou gestores, funcionários, voluntários e até mesmo usuários dos serviços da instituição, como alunos e pais nas escolas, membros nas igrejas e convidados em geral. Cada um atuando de forma colaborativa pode contribuir muito.
Neste artigo, trataremos de um exemplo recente, que nos ajudará a entender o porquê e como todas essas partes podem estar engajadas na prevenção, além de, é claro, explicar o que poderia ter sido feito para minimizar ou mesmo evitar o sinistro.
O QUE ACONTECEU
Em um domingo à noite, perto das 20h, uma instituição de ensino encontrava-se fechada e sem atividades, como de costume para os finais de semana. Foi quando um segurança da igreja vizinha da instituição enviou uma mensagem ao vice-diretor relatando que, em sua ronda habitual, percebeu um vazamento de água considerável, pois já estava saindo pela porta principal. A instituição não contava com nenhum sistema de detecção automática de incidentes, vazamentos, calor ou fumaça.
Conhecedor das escalas de funcionários e sabendo que não tinha sido feita nenhuma limpeza naquele dia, o vice-diretor que mora perto, deslocou-se rapidamente até o colégio. Após abrir a porta principal, reparou que o local estava tomado não só por água como também por fumaça. Ligou para a diretora, que veio rapidamente, e juntos acessaram o local. Identificaram que algumas portas estavam quentes, mas não encontram nada em chamas. Imediatamente, desligaram os quadros elétricos e registros hidráulicos.
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
No dia seguinte, após o acionamento de todos os técnicos envolvidos, identificou-se, por imagens do circuito de câmeras interno, que uma queda de energia aconteceu por volta das 6h da manhã e possivelmente um curto circuito afetou um quadro elétrico da área administrativa do colégio, provocando um incêndio em toda a estrutura próxima a ele. Uma das estruturas afetadas foi exatamente um encanamento próximo que pode ter contribuído para que o incêndio fosse controlado. As câmeras foram automaticamente desligadas cerca de 4h depois e não se sabe quanto tempo o fogo durou.
Segundo a administração da instituição, vários milagres e intervenções divinas aconteceram: (1) o fogo foi contido apenas na área administrativa sem intervenção humana; (2) nenhuma vida foi afetada, já que não tinha expediente normal; (3) o fogo apagou sozinho.
CAUSA DO INCÊNDIO
As causas do incêndio estão sendo analisadas pelo corpo de bombeiros local, e um laudo será emitido. O laudo ajudará a identificar a causa do incêndio, que é apenas uma parte de toda a problemática aqui envolvida.
FATO: A provável causa do incêndio se deve a uma instabilidade elétrica nas instalações da concessionária, comprometendo a rede interna da instituição, ocasionando possível curto circuito, sobrecarga no quadro de energia (imagem abaixo) e então o fogo. Danos elétricos são os principais causadores de princípios de incêndio no Brasil.
RECOMENDAÇÃO: É impossível prever instabilidade externa. Mas é plenamente possível preparar a estrutura de sua propriedade para essas situações. Estruturas novas e/ou bem conservadas e com a manutenção em dia tendem a ter menos riscos de impacto para esse tipo de incidente.
Recomendamos verificar constantemente toda a rede e instalações elétricas da instituição, checando se elas atendem às normas da ABNT (NR 10, NBR 5410, NBR 14039, NBR 13570 e NBR 5419), contratando preferencialmente profissional especializado na área e, com base no laudo emitido por ele, de acordo com a urgência, programar as atividades para eliminar as irregularidades encontradas.
Também recomendamos a criação de um procedimento formal de verificação periódica de anomalias nas instalações da instituição, executado essa verificação com a frequência estabelecida por um profissional especializado, eletricista, utilizando questionários apropriados, verificando in loco as condições das tomadas, quadros elétricos, dutos, fiação aparente, aterramentos, etc. Recomendamos ainda que seja definida uma equipe multidisciplinar que registre num livro de ocorrências e acompanhe a correção das anomalias encontradas.
COMO SERIA: Além de conseguir suportar mais instabilidades, equipamentos novos também possuem dispositivos de segurança que acionam um desligamento automático caso detectem uma necessidade imediata para evitar um acidente. Além disso, eles também acionariam os responsáveis técnicos para verificação imediata.
DETECÇÃO DO INCÊNDIO
Mesmo que as causas sejam detectadas e corrigidas, que estruturas melhores e investimentos em equipamentos sejam feitos, acidentes acontecem. O risco ainda existe e sempre existirá. Cada propriedade precisa estar o mais preparada possível para esse momento, caso venha a acontecer.
FATO: A instituição não possuía nenhum equipamento de detecção de incêndio. Quando o incêndio começou, nenhum alarme tocou, nenhum responsável foi contatado, nem mesmo o corpo de bombeiros foi acionado.
RECOMENDAÇÃO: Recomenda-se instalar um Sistema de Detecção de calor ou fumaça, isto é, um conjunto de sensores que detectam a existência de fumaça ou de elevação da temperatura no interior da instituição. É um sistema de proteção passiva que tem a finalidade de alertar a instituição sobre o início de um foco de incêndio, de forma a poder combatê-lo antes que se transforme num evento de porte maior. Por convenientemente instalado se entende aquele: a) que protege todos os ambientes onde o evento possa se iniciar, especialmente aqueles onde não é comum haver pessoas ou atividades em tempo integral; b) que está bem conservado, conectado a um sistema de alarme sonoro ou visual e mantido pronto para o uso; c) cuja eficiência tenha sido testada há menos de um ano por profissional habilitado. As normas NBR 17240 são a referência para esse assunto.
COMO SERIA: Com sistemas de detecção instalados e em funcionamento, muito rapidamente os dispositivos captariam a fumaça ou calor do incêndio. Automaticamente, os responsáveis seriam acionados e, na mesma velocidade em que a administração chegou ao colégio, eles mesmos poderiam ter contido o princípio de incêndio com extintores enquanto acionariam os bombeiros para um combate de proporção maior se necessário.
COMBATE E FUGA DO INCÊNDIO
O incidente aconteceu no domingo, sem a presença de funcionários ou alunos. No entanto, o mesmo incidente pode acontecer em qualquer dia, a qualquer momento, e todos precisam estar preparados. Tão importante quanto ter equipamentos de prevenção e combate ao incêndio é a necessidade de a instituição ter pessoas habilitadas para utilizá-los. E além da utilização dos equipamentos, todos devem estar preparados para fugir do incêndio de forma organizada e segura, apoiando o maior número possível de pessoas. Esse grupo será tratado como BRIGADISTAS VOLUNTÁRIOS.
Planejar e executar treinamentos sobre esse tema é um dos principais trunfos de qualquer instituição. Por isso, recomendamos fortemente que haja constantes treinamentos para funcionários de todos os setores e que esse treinamento seja colocado em prática através de simulados públicos, com a participação de todos que estiverem na instituição naquele momento.
Brigada de Incêndio é um grupo organizado de pessoas voluntárias ou não, treinadas e capacitadas para atuar na prevenção e combate a princípio de incêndio, isto é, que saibam utilizar extintores e mangueiras de hidrantes, treinadas para organizar o abandono da edificação e prestar os primeiros socorros, enquanto equipes especializadas não chegam ao local. Os cursos devem ser ministrados por empresas especializadas e devem contemplar aulas teórico-práticas, que estimulem a integração entre os participantes, permitindo uma formação adequada com táticas contextualizadas. A periodicidade do treinamento deve ser de 12 meses ou quando houver alteração de 50% dos membros da brigada.
A brigada deve realizar simulações de evacuação do local pelo menos duas vezes ao ano. A brigada também deve possuir um documento formal com as descrições de atividade de cada componente e suas devidas responsabilidades. Devem sempre considerar o quantitativo de funcionários, alunos e visitantes.
Quadros de aviso devem ser distribuídos em locais visíveis e de grande circulação, sinalizando a existência da brigada de incêndio e indicando seus integrantes com suas respectivas localizações. As normas NBR 14.276/2006 são a referência para esse assunto.
CONCLUSÃO
A cultura de prevenção e combate a incêndios deve fazer parte da consciência e atitude de todos. Se as instituições de ensino estão bem preparadas, além de minimizar os riscos de tragédias, elas também prestam um excelente serviço à comunidade, formando, pelo exemplo, crianças e jovens conscientes e ativos para essas situações.
O Brasil possui uma legislação adequada para evitar acidentes e garantir a segurança no trabalho. No entanto, o país ainda não tem uma cultura de prevenção e gerenciamento de riscos. Além disso, conta com pouca fiscalização para garantir o cumprimento da lei.
Segundo especialistas, dois aspectos são fundamentais para a formação da cultura de prevenção: organização e processos contínuos de ensino.
A organização é facilitada quando instituições formam comissões ou grupos específicos para atuação em temas de prevenção, planejando, promovendo e coordenando atividades que contribuam para uma mudança cultural e a conscientização da importância em aumentar a própria segurança.
Por sua vez, o processo de ensino é implementado por programas e projetos de educação em parceria com iniciativas privadas bem como com órgãos governamentais como universidades, Bombeiros e Defesa Civil. Os Centros Universitários de Estudos Sobre Desastres (CEPEDs) são instituições parceiras do Ministério da Integração e de órgãos de Defesa Civil que elaboram e aplicam de forma ampla esses programas e projetos. Um exemplo muito bem-sucedido é o da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Entre as campanhas elaboradas pelo CEPED/UFSC, algumas merecem destaque. O programa “Percepção de Risco: A Descoberta de um Novo Olhar” se destacou como uma campanha educativa para a cultura de prevenção, tendo como propósito a inclusão do tema no ensino fundamental e a contribuição para a formação de cidadãos conscientes dos riscos existentes. Foram utilizados kits educativos para escolas, e um filme documentário sobre cultura de prevenção e vinhetas em comerciais de televisão foram exibidos. O projeto atingiu cerca de 1.200 escolas de Santa Catarina, envolvendo aproximadamente 70.000 alunos e 2.000 professores. Além disso, foram formadas, como agentes multiplicadores, 16 lideranças comunitárias de Florianópolis e outros interessados.
Planejar e priorizar iniciativas dedicadas à prevenção tem retorno certo e seguro, pois essas iniciativas alcançam resultados imediatos protegendo VIDAS, garantindo solidez de PROCESSOS DE SEGURANÇA e preservando PATRIMÔNIO.
O Melhor Combate é a Prevenção!